Aquela triste e
leda [1]
madrugada,
cheia toda de
mágoa e de piedade,
enquanto houver
no mundo saudade,
quero que seja
sempre celebrada.
Ela só, quando
amena e marchetada[2]
saía, dando ao
mundo claridade,
viu apartar-se
d’ ua outra vontade,
que nunca
poderá ver-se apartada.
Ela só viu as
lágrimas em fio,
que duns e d’outros
olhos derivadas,
s`acrescentaram
em grande e largo rio.
Ela viu as
palavras magoadas,
que puderam
tornar o fogo frio,
e dar descanso
as almas condenadas.
Camões
E alegre se fez
triste
Aquela clara
madrugada que
viu lágrimas correrem no teu rosto
e alegre se fez triste como se
chovesse de repente em pleno Agosto
viu lágrimas correrem no teu rosto
e alegre se fez triste como se
chovesse de repente em pleno Agosto
Ela só viu meus
dedos nos teus dedos
meu nome no teu nome. E demorados
viu nossos olhos juntos nos segredos
que em silêncio dissemos separados.
meu nome no teu nome. E demorados
viu nossos olhos juntos nos segredos
que em silêncio dissemos separados.
A clara
madrugada em que parti.
Só ela viu teu rosto olhando a estrada
por onde o automóvel se afastava.
Só ela viu teu rosto olhando a estrada
por onde o automóvel se afastava.
E viu que a
pátria estava toda em ti.
E ouviu dizer-me adeus: essa palavra
Que fez tão triste a clara madrugada.
E ouviu dizer-me adeus: essa palavra
Que fez tão triste a clara madrugada.
Manuel Alegre, O Canto e as Armas
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